Careca do INSS bancou camarote para atual nº 2 da Previdência
À coluna secretário-executivo do Ministério da Previdência confirmou que estava em camarote ao lado do Careca do INSS
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O lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, bancou camarotes no show do Red Hot Chilli Peppers, em Brasília, para autoridades do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Ministério da Previdência Social. Entre os participantes, estava o atual secretário-executivo da pasta, Adroaldo Portal (PDT) – que, oito meses antes do evento, abriu a porta de seu gabinete no ministério para o lobista, conforme revelou a coluna.
O Careca do INSS é apontado como operador do esquema criminoso de R$ 6 bilhões de descontos indevidos de aposentados e pensionistas. As fraudes foram reveladas pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de novembro de 2023. Em abril deste ano, a Polícia Federal realizou a Operação Sem Descontos para aprofundar as investigações sobre o esquema e cumpriu 211 mandados de busca e seis de prisão temporária.

O Careca do INSS aluga de forma permanente dois camarotes no estádio Mané Garrincha. Os contratos são feitos por meio da Prospect Consultoria, empresa que era usada para receber cerca de R$ 31 milhões de entidades beneficiadas pelos descontos e, segundo a PF, rear R$ 9 milhões a integrantes do INSS.
O show ocorreu em 7 de novembro de 2023, no estádio Mané Garrincha. Foi a primeira apresentação do Red Hot Chilli Peppers na capital federal, em 40 anos da banda. A presença de autoridades do INSS e do Ministério da Previdência no espaço foi confirmada por Adroaldo Portal. Ele também assegurou a companhia do Careca do INSS no camarote, mas alegou desconhecer, porém, que ele bancou os ingressos. A coluna apurou que um camarote com 50 convidados custa cerca de R$ 50 mil, fora o custo de aluguel do espaço.
“Eu recebi o convite do INSS. Foram distribuídos alguns convites, e eu recebi”, explicou Adroaldo Portal, em conversa com a coluna. À época do show, ele era secretário do Regime Geral de Previdência Social. “Era um procedimento até então relativamente comum: distribuição de convites. E eu fui sim. E eu não sei te dizer a procedência do custeio do convite”, prosseguiu o secretário-executivo.
Adroaldo Portal descreve, em seguida, que se lembra da presença do Careca do INSS no camarote e de dirigentes da autarquia. “Mas ele [Careca do INSS] sequer se apresentou como dono do camarote. Naquele dia tinha muita gente do INSS, naquele evento, inclusive dirigentes e servidores. Tinha muita gente”, complementou.
Procurado, o INSS informou que o recebimento de presentes, ingressos, ou qualquer vantagem é proibido a qualquer servidor público, por força da lei de conflitos de interesse (Lei 12.813/2013). “O INSS reafirma seu compromisso com a probidade istrativa, caso algum servidor ou dirigente tenha ferido tal dever, deverá ser responsabilizado com a penalidade exposta na lei, demissão”, assinalou. O Ministério da Previdência, por sua vez, não se manifestou.
Nº 2 da Previdência abriu portas de gabinete para o Careca do INSS
Conforme revelou a coluna na sexta-feira (30/5), Adroaldo Porto recebeu em seu gabinete o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, em reunião que ficou fora da agenda oficial do servidor. O encontro ocorreu em 13 de março de 2023, e, na ocasião, o Careca do INSS estava acompanhado de representante de correspondentes bancários de empréstimos consignados.

A coluna obteve os registros de entrada e de saída do lobista no prédio por meio da Lei de o à Informação (LAI). O Careca do INSS entra às 10h37 e sai 30 minutos depois, às 11h07.
Em conversa com a coluna, Adroaldo afirmou que não conhecia o lobista quando fizeram a reunião e aram a se encontrar em agendas sociais em seguida. “Naquele dia, eu não o conhecia. O conheci em restaurante, apresentado por um amigo, alguns meses depois. Por amigos em um restaurante. E o encontrei, algumas vezes, em eventos sociais: restaurantes e casas de show”, descreveu.
Quem é o atual secretário-executivo do Ministério da Previdência
Jornalista de formação, Adroaldo Portal foi alçado a número dois da pasta no último dia 22 de maio pelo titular do Ministério da Previdência Social, Wolney Queiroz – que, por sua vez, assumiu o posto de Carlos Lupi, demitido na esteira da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, que investiga o esquema de descontos indevidos de aposentados e pensionistas do INSS.
Adroaldo ocupava a Secretaria do Regime Geral de Previdência Social da pasta. O órgão tem função primordial na supervisão e orientação da concessão de benefícios previdenciários. Além disso, tem papel importante na regulação de normas e na articulação com outros órgãos e entidades para assegurar que a legislação esteja sempre atualizada.
Esse, no entanto, não foi o primeiro cargo ocupado por ele num governo petista: foi chefe de gabinete e secretário-executivo substituto do Ministério das Comunicações durante a gestão de Dilma Rousseff. Nessa época, presidiu o Conselho de istração dos Correios e foi, ainda, conselheiro fiscal da Telebras.
Adroaldo também ocupou a chefia de gabinete da liderança do PDT no Senado durante a Reforma da Previdência, função que repetiu na Câmara dos Deputados, o que mostra a forte ligação com o partido que desembarcou do governo.
O atual número 2 da Previdência também foi chefe de gabinete do senador Weverton Rocha (PDT-MA), que já itiu conhecer o “Careca do INSS”. O parlamentar é responsável pela indicação do ex-diretor de Benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) André Fidélis para o cargo, do qual foi afastado em 2024, no início das suspeitas de descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
O envolvimento da Prospect com a farra do INSS
Segundo investigação da Polícia Federal, o Careca do INSS é sócio de uma “miríade de empresas”, muitas das quais estariam envolvidas na “farra do INSS”, em especial a Prospect Consultoria.
Por meio dessa empresa, o lobista fez rees diretos e indiretos de valores a dirigentes do INSS. Entre eles, estão: Alexandre Guimarães, então diretor de Governança, Planejamento e Inovação, e Virgilio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho, que ocupava o cargo de procurador-geral.