Maduro radicaliza contra oposição ao iniciar novo e contestado mandato
Contestado mundialmente, Maduro promete assumir a presidência da Venezuela nesta sexta-feira para um terceiro mandato de seis anos
atualizado
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Junto da incerteza sobre o futuro político na Venezuela, a posse presidencial no país nesta sexta-feira (10/1) acontece em meio à muita tensão. Desrespeitos aos direitos humanos, perseguição de opositores do regime de Nicolás Maduro e conflitos diplomáticos colocaram ainda mais lenha no barril de pólvora que o território venezuelano se tornou nos últimos anos.
O último destes episódios aconteceu nessa quinta-feira (9/1), quando a oposição denunciou a prisão de María Corina Machado na saída de uma manifestação em Caracas. Segundo o grupo que liderou a campanha eleitoral contra Maduro, a ex-deputada foi libertada cerca de uma hora após a detenção.
A crise na Venezuela
- Nas eleições presidenciais realizadas em julho, Maduro frustrou os planos de opositores e da comunidade internacional, que esperavam o cumprimento da promessa de que o pleito seria realizado com base em princípios democráticos. Mas, horas depois de a contagem de votos ter sido encerrada no país, tudo caiu por terra.
- Mesmo sem apresentar dados que sustentassem a vitória de Maduro, autoridades eleitorais do país proclamaram o herdeiro político de Hugo Chávez, há onze anos no poder, como o presidente reeleito na Venezuela.
- A falta de transparência, como a ausência de divulgação das atas eleitorais, aliada ao início da retórica agressiva de Maduro contra a oposição, provocaram uma onda de notas de repúdio de países que acompanharam o pleito. Pressionado, o líder chavista subiu o tom contra aqueles que apontaram fraude eleitoral.
Pressão internacional
Um dos primeiros alvos do atual presidente da Venezuela foram países que contestaram sua vitória. Como retaliação, Maduro ordenou a expulsão do corpo diplomático de sete países do território venezuelano.
Em meio à insistência internacional para a divulgação das atas eleitorais, que podiam comprovar ou não a remanescência do chavismo no poder, a oposição correu por fora para tentar comprovar a vitória de Edmundo González. Dias após o pleito, o Comando ConVzla, grupo liderado pela opositora María Corina Machado, divulgou resultados preliminares que mostravam o ex-diplomata com 67% dos votos, contra 30% do atual presidente.
Ao mesmo o em que a insistência da oposição em não aceitar a reeleição de Maduro crescia, as medidas repressivas do regime chavista também aumentavam.
Uma delas obrigou González, que disputou as eleições presidenciais contra Maduro, a abandonar a Venezuela e buscar asilo político na Espanha. A decisão foi tomada após uma ordem de prisão ser emitida contra o ex-embaixador venezuelano, acusado de crimes como falsificação de documentos oficiais, usurpação de funções de autoridades e incitação a atividades ilegais.
Apesar disso, o ex-embaixador, que tem recompensa de US$ 100 mil por sua captura, prometeu retornar à Venezuela para assumir a presidência do país.
Interferência estrangeira, perseguição e sequestros
Nos dias seguintes à realização do pleito, Maduro adotou uma retórica de que a Venezuela estaria sendo alvo de uma interferência estrangeira, que visava levar González ao poder. Até mesmo o bilionário Elon Musk foi acusado pelo presidente venezuelano de tentar aplicar um golpe no país.
As alegações de Maduro ganharam força após Erik Prince, um notório empresário norte-americano do ramo de mercenários, anunciar uma ação contra o regime de Maduro para mudar os rumos da Venezuela.
Menos de cinquenta dias após as eleições, o governo venezuelano anunciou a prisão de 19 estrangeiros, acusados de serem mercenários com uma missão a ser realizada no país. O número de cidadãos estrangeiros presos no país sob a mesma justificativa já ultraa a casa dos 125.
Assim como os estrangeiros acusados de tentar promover atos terroristas no país, opositores do regime chavista também foram alvos de autoridades locais, que iniciaram uma série de prisões contra figuras ligadas ao polo político oposto ao de Maduro.
Segundo dados da Missão Internacional Independente de Investigação de Fatos da Organização das Nações Unidas (ONU), com base em informações da organização não-governamental Foro Penal, mais de 1,8 mil pessoas seguem presas na Venezuela por motivos políticos.
Sequestro de opositores
Além dos casos de prisões, o governo venezuelano é acusado de estar por trás do sequestro de opositores e pessoas ligadas aos direitos humanos no país. Somente na última terça-feira (7/1), três casos foram registrados.
O primeiro caso foi denunciado por González. Em uma publicação no X, o opositor de Maduro disse que seu genro foi sequestrado em Caracas, quando ia levar os filhos pequenos a uma escola da capital. Horas depois, duas ONGs ligadas a defesa da liberdade de expressão anunciaram o desaparecimento de outros dois opositores, entre eles o ex-candidato à presidência do país, Enrique Márquez.