Alunos protestam contra fechamento de escola pública no centro de SP
A Escola Estadual de São Paulo, no centro de SP, será desativada em 2025 para obras de revitalização da Prefeitura no Parque Dom Pedro II
atualizado
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São Paulo — Estudantes da Escola Estadual (E.E.) de São Paulo e integrantes de movimentos estudantis estão reunidos desde as 7h da manhã desta segunda-feira (9/12) em frente à unidade de ensino localizada no Brás, no centro de São Paulo, em uma manifestação contra o fechamento da escola.
A escola estadual, uma das mais antigas da cidade e onde estudou o jornalista Vladimir Herzog, será temporariamente fechada pela Secretaria da Educação (Seduc) em 2025. Segundo a pasta, a escola será desativada por causa de uma obra de revitalização da Prefeitura no Parque Dom Pedro II, onde fica a instituição.
“Essa decisão prejudicará centenas de estudantes, trabalhadores e toda a comunidade. A Escola Estadual de São Paulo foi a primeira escola do estado, é referência há mais de 130 anos e agora está ameaçada”, afirma o chamado à manifestação dos estudantes.
A manifestação tem apoio da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (Umes-SP) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), entre outros movimentos.
Segundo o governo do estado, a decisão partiu de um entendimento firmado entre o município e o governo do estado, “evitando qualquer risco aos alunos e funcionários”.
“O ano letivo de 2024 será concluído normalmente e os 130 alunos e 27 profissionais da escola – entre equipe da limpeza, cozinha, agentes, docentes e equipe gestora – serão remanejados para outras unidades. Todos terão vagas garantidas em outras instituições na região”, afirma a nota enviada ao Metrópoles.
Ainda de acordo com a Seduc, os estudantes de 2ª e 3ª séries serão transferidos para a E.E. Caetano de Campos, na Consolação. As duas classes de 1ª série, que iriam iniciar em 2025 na E.E. de São Paulo, serão desmembradas em unidades da região central e da Mooca.
O estado garante ainda que a escola voltará a funcionar no término da obra, quando ará a oferecer cursos de Educação Profissional ou como Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Ceeja).
Comunidade escolar lamenta
A notícia da desativação da escola pegou a comunidade escolar de surpresa. “Fiquei sabendo ontem de manhã, foi bem inesperado”, conta a estudante Fernanda Moura, de 18 anos, que está no 3º ano do ensino médio. “Me sinto mal pelos professores que vão ser remanejados e pelos alunos que não tiveram direito de escolha para saber para quais escolas eles iriam.”
Cristhyan Giovanne, também de 18 anos, endossa o coro da colega e diz que os estudantes sofrerão com a mudança de unidade. “Essa é a melhor escola da região central. Eu já fui em outras e elas não têm o que esta daqui tem”, desabafa o aluno.
A escola conta, atualmente, com projetos pedagógicos elogiados, como clube de dança, campeonatos interclasses e tutoria com professores. A infraestrutura também é superior à média dos colégios estaduais, com direito a ginásio, teatro e lousas digitais.
“O que eu quero ser da minha vida eu descobri aqui, por causa da estrutura que eles têm, das oportunidades, dos tutores. Os melhores professores que eu conheci estão aqui. É injusto separar todo mundo, acabar com a história de uma escola centenária em prol de obras”, diz Cristhyan.
Os estudantes da escola iniciaram um abaixo-assinado para tentar reverter a situação. Ex-aluno da unidade, Renato Hyago, de 18 anos, é um dos envolvidos na articulação e ressalta a qualidade do ensino no local.
“Meu irmão vai entrar no ensino médio no ano que vem e eu queria trazer ele para cá porque eu tenho certeza que o ensino que eles têm aqui é o melhor”, conta o jovem, que estudou em outras unidades antes de ser transferido para a E.E. São Paulo, em 2023. “Nenhuma escola no centro me ensinou um terço do que eu aprendi aqui.”
Escola centenária
A E.E.de São Paulo é uma escola centenária e considerada referência na cidade. A unidade foi aberta em 1894, na região da Pinacoteca, e desde 1958 está no terreno ao lado do Parque Dom Pedro II. Figuras ilustres como o jornalista Vladimir Herzog, o ex-governador de São Paulo Carvalho Pinto, o ator Francisco Cuoco e a escritora Maria Adelaide Amaral são alguns dos ex-alunos da instituição.
No ado, a unidade chegou a receber até 3 mil alunos, divididos em diferentes períodos. Atualmente, segundo a Secretaria da Educação, a escola conta com 130 alunos, 27 funcionários e funciona em tempo integral.
Parte do prédio que pertence ao colégio está desativado há alguns anos. Segundo uma funcionária da escola, que preferiu não ser identificada por medo de represálias, o local seria transformado em um batalhão da polícia. A reforma, contudo, nunca foi feita e o espaço acabou depredado.
A construção está atualmente com paredes pichadas e vidros quebrados. Pessoas em situação de rua dormem rente ao muro do prédio desativado (veja imagens acima).