“País sério”, “insanidade”: humoristas reagem à condenação de Leo Lins
Humoristas e políticos saíram em defesa de Leo Lins após condenação de oito anos de prisão por discursos preconceituosos contra minorias
atualizado
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Humoristas brasileiros estão indo às redes repercutir a condenação de Leo Lins, sentenciado a oito anos e três meses de prisão em regime fechado por proferir discursos preconceituosos contra diversas minorias. Comediantes como Antonio Tabet, Thiago Ventura e Jonathan Nemer comentaram o caso. Políticos também comentaram a decisão da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo (veja mais abaixo).
O ator, publicitário, roteirista e humorista Antonio Tabet, conhecido por ser um dos criadores do canal Porta dos Fundos, chamou a decisão da Justiça de “absurda”.
“Pode-se não achar a menor graça ou até detestar as piadas de Leo Lins, mas condená-lo à prisão por elas é uma insanidade e um desserviço. Espero que essa decisão completamente descabida seja revertida”, afirmou em publicação no X.
O comediante Jonathan Nemer, também no X, afirmou que “essa é a merda que acontece no Brasil… um país que leva a sério piadas que humoristas contam nos shows, e levam na brincadeira o que políticos fazem”.
Quem também criticou a condenação foi o humorista Renato Albani. “Você acha que você [vive] num país sério? Então veja isso aqui”, escreveu no Instagram, para em seguida postar a print de uma reportagem sobre o caso.
Thiago Ventura publicou um vídeo breve no Instagram, com print de manchete que noticia a condenação de Leo Lins. O humorista disse apenas que “não é possível não, pô”, e escreveu na legenda da publicação: “É o que?”. Muitos seguidores do comediante rechaçaram o posicionamento nos comentários da postagem.
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O apresentador Danilo Gentili não publicou uma manifestação própria sobre o caso, mas compartilhou postagens que apoiam o humorista sentenciado à prisão. Os dois trabalharam juntos no programa The Noite com Gentili até 2022, quando Lins foi demitido do SBT por fazer uma piada capacitista.
Políticos também reagiram à condenação
Além de humoristas, políticos também prestaram apoio a Leo Lins após a condenação. O vereador de São Paulo Lucas Pavanato (PL) comparou a sentença do comediante ao período que o MC Poze do Rodo ou preso temporariamente no Rio de Janeiro, investigado por associação com a facção criminosa Comando Vermelho. O músico ficou quatro dias preso e foi solto nesta terça (3/6) após ter habeas corpus concedido pela Justiça.
A comparação também foi usada por Amanda Vettorazzo (União Brasil), colega de Pavanato na Câmara Municipal de São Paulo. A vereadora afirmou que “esse país acabou” após a condenação de Leo Lins.
O político João Amoêdo, ex-presidente do partido Novo, disse não conhecer o humorista e o teor de suas piadas. Apesar disso, chamou a decisão da Justiça 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo de “completo absurdo”.
Condenação
Leo Lins foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por falas veiculadas em um vídeo de uma de suas apresentações. O conteúdo foi publicado no YouTube em 2022.
O réu também terá que pagar multa equivalente a 1.170 salários mínimos (valor da época da publicação das imagens), aproximadamente R$ 1,4 milhão, além de indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. Cabe recurso contra a sentença.
O que diz a defesa
- A defesa do humorista disse ter recebido a notícia da condenação com “grande surpresa”.
- “Trata-se de um triste capítulo para a liberdade de expressão no Brasil, diante de uma condenação equiparada à censura”, diz nota enviada ao Metrópoles.
- “Ver um humorista condenado a sanções equivalentes às aplicadas a crimes como tráfico de drogas, corrupção ou homicídio, por supostas piadas contadas em palco, causa-nos profunda preocupação”, continuou o texto.
- Os advogados Carlos Eduardo Ramos e Lucas Giuberti afirmaram ainda que, “apesar desse episódio, mantêm plena confiança no Poder Judiciário nacional, que tantas vezes tem sido acionado para garantir direitos e liberdades individuais”.
- Segundo a nota, a defesa do humorista entrará com recurso contra a decisão, “e confia em que essa injustiça será reparada em segunda instância”, finaliza o texto.
Declarações contra minorias
O vídeo que gerou a condenação de Leo Lins foi gravado em 2022, durante show chamado “Leo Lins – PERTURBADOR”. Nele, o comediante profere uma série de declarações contra negros, idosos, obesos, pessoas que vivem com HIV, indígenas, nordestinos, judeus, evangélicos, pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIA+.
Em agosto de 2023, segundo o processo, a publicação já ultraava 3 milhões de visualizações quando foi suspensa por decisão judicial. A sentença destaca que a disponibilização do vídeo na internet e a grande quantidade de pessoas que foram atingidas pelas supostas piadas foram fatores considerados para a pena aplicada.
Foi levado em consideração também o fato de que os discursos ocorreram em contexto de descontração, diversão ou recreação.
“Ao longo do show, o réu itiu o caráter preconceituoso de suas anedotas, demonstrou descaso com a possível reação das vítimas e afirmou estar ciente de que poderia enfrentar problemas judiciais”, consta na decisão.
A sentença da Justiça Federal de São Paulo destaca que os discursos de Leo Lins “estimulam a propagação de violência verbal na sociedade e fomentam a intolerância” e que atividades artísticas não são “e-livre” para cometimento de crimes, “assim como a liberdade de expressão não é pretexto para o proferimento de comentários odiosos, preconceituosos e discriminatórios”.
As condutas do comediante se enquadram nas Leis 7.716/1989, que define crimes de preconceito de raça ou cor, e 13.146/2015, de crimes contra pessoas com deficiência.