Justiça Militar torna réu PM que matou garota de 16 anos em abordagem
Sargento do 48º Batalhão da capital paulista em serviço deu coronhada na cabeça de rapaz, arma disparou e matou adolescente
atualizado
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O Tribunal de Justiça Militar (TJM) acolheu denúncia contra o sargento Thiago Guerra, de 39 anos, pelo assassinato da adolescente Victória Manoelly dos Santos, de 16 anos, em 9 de janeiro deste ano, na região de Guaianases, zona leste da capital paulista.
O homicídio decorreu do disparo da arma empunhada pelo PM, quando ele a usou para dar uma coronhada na cabeça do irmão da garota – Kauê Alexandre dos Santos, 21 – durante uma abordagem.
Victória foi levada em estado grave ao Hospital Geral de Guaianases, onde morreu por uma hemorragia interna provocada pelo tiro que a feriu no lado direito do peito, como consta em laudo da Polícia Técnico-Científica obtido pelo Metrópoles.
Versão do PM
Na ocasião, o sargento relatou que foi acionado para dar apoio a um assalto, no qual quatro ladrões levaram a carteira de um eletricista, por volta das 20h, quando a vítima havia desembarcado da estação Guaianases, da linha 11-coral da TM.
Câmeras corporais na PM de SP
- O Governo do Estado de São Paulo firmou um acordo com a Defensoria Pública do Estado para manter a compra de câmeras corporais que dependem do acionamento intencional dos policiais militares.
- Em contrapartida, o estado deverá aumentar o número de equipamentos adquiridos e distribuí-los nos batalhões com maior letalidade policial.
- O acordo foi feito durante uma audiência que aconteceu em maio deste ano no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.
- O novo modelo, que prevê o acionamento da gravação pelos policiais em vez da gravação automática, vem sendo questionado.
- O modelo é criticado por organizações ligadas à segurança pública porque marcaria uma mudança no “Olho Vivo” – projeto que tem como um de seus objetivos reduzir a letalidade policial.
- As organizações enfatizam o perigo de os policiais não ativarem a gravação, reduzindo o poder inibitório que uma gravação constante teria para coibir desvios de conduta.
Um dos criminosos, na ocasião com 17 anos, havia sido apreendido em flagrante, com a carteira do eletricista, nas imediações da Praça Getúlio Vargas, perto de onde Kauê trabalhava em uma adega de bebidas. No comércio, estava acompanhado da mãe e da irmã Victória, além de amigos, após o término de seu expediente.
Ao perceberem a perseguição policial que ocorria a pé, os dois irmãos ficaram curiosos e saíram da adega. Assim que os avistou, o sargento Guerra correu em direção a eles.
Em seu relato, o PM afirmou que os dois estavam correndo, fugindo, insinuando que estariam supostamente envolvidos no assalto. Quando se aproximou de Kauê, o sargento afirmou que o rapaz deu um tapa em sua mão, fazendo com que a pistola disparasse, atingindo a jovem no peito.
O menor infrator apreendido confessou o crime, acrescentando que Kauê não tinha nenhum envolvimento no caso.
Desmentido pela bodycam
Em seu relato, Kauê conta que estava na adega, após o serviço, acompanhado de parentes e amigos. Acrescentou que saiu do estabelecimento, junto da irmã, para conferir a movimentação policial na praça, quando foi abordado pelo sargento Guerra. O policial discutiu com o jovem, o agarrou pela gola da camisa e aplicou um golpe na cabeça, usando a coronha de uma pistola calibre ponto 40, que disparou e atingiu Victória.
A versão de Kauê foi referendada após a Polícia Civil – enquanto registrava a ocorrência – ter o à câmera corporal usada pelo sargento. Com isso, ele ou da condição de testemunha do caso para indiciado por homicídio, crime pelo qual foi preso em flagrante, no mesmo dia.
A prisão do PM foi convertida para preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. Apesar de todos os esforços da defesa para que ele respondesse ao caso em liberdade, o sargento segue atrás das grades, no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte paulistana.
Até mesmo o Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi acionado pelos advogados do PM. Porém, com base nos argumentos do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), pautados pelas provas do crime, a prisão do sargento foi mantida.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) e a PM foram questionadas sobre eventuais ações istrativas feitas contra o policial, sem sucesso. O espaço segue aberto.